Medicamentos e calor
A ocorrência de temperaturas elevadas durante vários dias, desencadeia no organismo humano mecanismos de defesa de regulação de temperatura. Em certas casos, estes mecanismos poderão ter a sua eficácia comprometida, diminuindo a capacidade de adaptação ao calor, pelo que a necessidade de vigilância é acrescida. São exemplos: crianças nos primeiros anos de vida, pessoas idosas, alguns doentes crónicos, pessoas acamadas, pessoas obesas e pessoas tratadas com medicamentos que podem interferir na termorregulação.
Por outro lado, a exposição dos medicamentos a temperaturas elevadas por períodos de tempo prolongados pode alterar as suas propriedades, pelo que alguns requerem precauções particulares de armazenamento e conservação.
Salienta-se que estas perguntas e respostas apenas se referem a medicamentos, contudo, existem diversas orientações adicionais sobre a matéria, disponíveis no site da Direcção-Geral da Saúde.
Esta informação é apenas uma orientação, que não dispensa o contacto com o médico ou farmacêutico.
Para saber mais...
- Direcção-Geral da Saúde em: www.dgs.pt
- Le point sur...Canicule et Medicaments, AFSSAPS em: www.agmed.sante.gouv.fr/htm/10/canicule/index.htm
Como é que os medicamentos podem interferir na reacção do organismo ao calor?
Outros medicamentos impedem o normal funcionamento dos mecanismos de refrigeração do organismo. Para que o organismo arrefeça, é necessário que o sistema nervoso central possa comandar a dilatação dos vasos sanguíneos superficiais, a fim de permitir uma melhor circulação do sangue, libertação de calor e transpiração. Medicamentos que diminuam a tensão arterial ou alterem o estado de vigilância, podem também agravar os efeitos do calor.
O medicamento é, por si só, um factor de risco?
Existem numerosos factores de risco relacionados com o estado de saúde que interferem com a capacidade de regulação da temperatura do organismo, com a consequente diminuição da capacidade de resistir ao calor:
- Estados febris
- Idade avançada ou os primeiros anos de vida (0 a 4 anos)
- Excesso de peso
- Existência de uma ou mais doenças crónicas, em particular, cardíacas, renais, respiratórias, diabetes, doenças neurológicas ou psiquiátricas, etc.
- Limitação da autonomia (ex. doentes acamados)
A presença destes ou doutros factores de risco concomitantes, deverá ser avaliada em conjunto com os medicamentos utilizados. Para tal, aconselhe-se com o seu médico ou farmacêutico.
Quais os medicamentos que podem apresentar riscos de interferência?
- Medicamentos destinados ao tratamento da doença cardíaca: diuréticos que podem aumentar a desidratação, antihipertensores ou antianginosos que podem agravar uma hipotensão, medicamentos antiarrítmicos ou digoxina que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
- Neurolépticos, pois podem interferir com o 'termostato' central do organismo e provocar aumento da temperatura; sais de lítio que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
- Antiepilépticos que podem requerer um ajuste de dosagem em caso de desidratação.
- Medicamentos para tratamento de enxaqueca podem impedir a vasodilatação periférica ou diminuir a transpiração
- Alguns antibióticos (particularmente sulfamidas) e alguns anti-inflamatórios podem alterar o funcionamento normal dos rins em caso de desidratação.
- Alguns medicamentos antidepressivos, antiparkinsónicos, destinados à incontinência urinária ou antialérgicos podem alterar a transpiração.
O que fazer no caso de uma ocorrência de uma onda de calor?
- Consultar o médico caso não se sinta bem ou não o faça há já algum tempo, pois poderá ser necessário proceder a quaisquer exames ou adaptações do tratamento.
- Ler atentamente o folheto informativo dos medicamentos que toma.
- Respeitar a posologia e os horários das tomas dos medicamentos tal como indicados pelo médico e farmacêutico.
- Respeitar os conselhos habituais de higiene e alimentação, nomeadamente beber muitos líquidos, mesmo que não tenha sede (de preferência água ou sumos de fruta natural), evitar a exposição ao sol ou ao calor e refrescar-se frequentemente através de banho, duche ou aplicação de panos húmidos.
O que evitar no caso de uma ocorrência de uma onda de calor?
- Não consumir bebidas alcoólicas, pois estas agravam a desidratação.
- Não tomar qualquer medicamento sem a orientação de um médico ou farmacêutico, mesmo aqueles que não são sujeitos a receita médica (de venda livre).
Como conservar os medicamentos durante uma onda de calor?
Quando a embalagem do medicamento refere:
- "Conservar entre 2 a 8ºC" - estes medicamentos são geralmente guardados no frigorífico, pelo que a ocorrência de uma onda de calor não terá qualquer efeito na sua conservação. Deverão ser retirados do frigorífico estritamente para serem utilizados, voltando a proceder de imediato à sua reintrodução, após o seu uso.
Algumas formas farmacêuticas (supositórios, óvulos, cremes, etc.) são mais susceptíveis de sofrer alterações devidas à temperatura, facto que é detectável se os medicamentos apresentarem alterações na sua aparência ou consistência, que indiciam a alteração da sua qualidade. Nestes casos, antes de utilizar o medicamento, questione o seu farmacêutico.
Como transportar os medicamentos em dias de muito calor?
- Todos os outros medicamentos: deverão ser transportados, preferencialmente, em sacos isotérmicos.
- Mesmo utilizando sacos isotérmicos, os medicamentos não devem ser expostos, durante longos períodos de tempo, a temperaturas elevadas, como aquelas que se atingem nas malas ou interior dos carros estacionados ao sol.